terça-feira, 3 de agosto de 2010

Centros de saúde sem funcionários para atender doentes.



"Saídas já afectaram 400 administrativos este ano, mas a sua substituição, quando existe, demora meses.

Num centro de saúde da região de Lisboa, um médico queixa-se de ter de arrumar medicamentos e materiais por não haver auxiliares. Já no centro pneumológico da Venda Nova, a falta de administrativos impediu que os médicos dos centros de saúde encaminhassem doentes para lá, mesmo com suspeitas de tuberculose. São apenas dois exemplos entre muitos que existem no País devido à aposentação de enfermeiros, mas sobretudo administrativos e auxiliares nos cuidados primários. Saem e não são substituídos. As restrições às contratações sentem-se noutras áreas que não a médica. Este ano já saíram 400 administrativos e a sua substituição tem de ser autorizada (ver caixas).

Ana Amaral, do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Ilhas, diz que este problema "é comum a todas as regiões de saúde, sobretudo Lisboa". Apesar de poderem contratar, as "autorizações das Regiões de Saúde podem demorar meses".

O caso mais extremo é o do Centro de Diagnóstico Pneumológico da Venda Nova, que ficou dias sem administrativos para atender chamadas e receber doentes (ver texto ao lado). Helena Cargaleiro, do Agrupamento de Centros de Saúde da Amadora, refere que "se aguardam concursos para resolver o problema". Sobre a falta de recursos noutros centros, refere que "põe sobretudo em causa a personalização dos cuidados, que defendemos, e o atendimento ao utente". No Centro do Norte não há ruptura, mas "recorreu-se a horas extras e à contratualização específica nesta área", diz a coordenadora Ana Maria Correia.

No centro de saúde da Venda Nova e na unidade de saúde familiar (USF) associada, um profissional que não quis ser identificado disse que há apenas "dois auxiliares para as duas unidades". Entre serviços como estafeta, limpezas, reposição de remédios ou arquivo de processos de doentes, a verdade "é que há consultas que não têm apoio de auxiliares, apesar de a Ordem dos Médicos o determinar. É o caso da consulta materna em que são feitos exames ginecológicos só por uma pessoa".

Mas há mais problemas. "Com tantos atrasos na resposta, andam os médicos e os enfermeiros a arrumar materiais em vez de tratarem das suas funções. Acaba por chatear menos do que andar à procura de um auxiliar", lamenta.

Um clínico de Alcântara lamenta terem "saído as pessoas mais velhas e experientes. Há muitas queixas: não chegam para tudo. Há atrasos nos reembolsos de apoios técnicos e transportes a doentes, no atendimento ou na conferência de facturas". Até mesmo a Associação de USF e os sindicatos assumem que há exemplos de quase ruptura, perante casos de doença e numa altura de férias.

Manuel Lopes, presidente da Associação dos Administrativos (Aspaas), fala em "406 saídas só este ano, mas esperam-se mais 800 até ao final do ano. Nessa altura é que podem surgir verdadeiros problemas de ruptura nas unidades".

Os enfermeiros "não são contratados ou são substituídos por empresas", diz o dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, José Carlos Martins. "No Algarve eram precisos 80 e apenas 30, de empresas, foram integrados." O problema "atinge hospitais e centros em Vila Franca, Guarda, Torres Vedras ou Beja". Um enfermeiro do Hospital Júlio de Matos conta que não há administrativos aos fins-de-semana e noites. "Somos nós que registamos os doentes."

O DN contactou o ministério, que não respondeu em tempo útil."

Fonte DN

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